Transcrição – Áudio – 2025-1
Agora que você já fez a tarefa anterior, pode ouvir novamente o áudio e acompanhar com a transcrição abaixo. Aproveite para prestar atenção na pronúncia e escrita das palavras e adicionar novas palavras à sua lista de vocabulário.
Transcrição
Olá! Começa agora mais um Brasil de Fato Entrevista. Hoje a nossa conversa é com o diretor de cinema Luiz Bolognesi, que acabou de lançar o documentário A Última Floresta, gravado em uma aldeia Yanomami. O roteiro do filme foi feito em parceria com o líder indígena Davi Kopenawa, e explora temas como a luta contra o garimpo ilegal, a preservação da floresta e a mitologia Yanomami. Confira!
O relacionamento com o Yanomami durante algumas semanas foi uma coisa que realmente mudou a minha vida. Eles não tentam controlar o futuro, e isso cria algumas consequências imediatas muito interessantes, que é, eles estão muito presentes no aqui e agora, eles estão muito vivos no momento, e isso faz com que eles façam as coisas mais bem feitas que a gente. Eles conseguem tecer, cozinhar, caçar, com uma calma, ou mesmo ser atores de filme, com uma presença, com um foco, que nenhum ator ou atriz branca que eu trabalhei consegue entregar, porque ele está disperso.
A motivação de fazer A Última Floresta tem um estopim, no longo prazo e no curto. Eu vou falar rapidamente do longo prazo. No longo prazo, é um encantamento que eu tenho há muito tempo, desde a juventude, um fascínio que eu tenho por conhecer como são, como era, como pensam, os povos nativos, os povos originais, que a gente chama de povos indígenas, que estavam no mundo que a gente chama de Brasil, hoje, antes dos europeus chegarem.
Eu estudei antropologia e esse encantamento foi crescendo, mas ele não se deu apenas no campo intelectual. Além de eu aprofundar o meu conhecimento, por entender que a gente sabe muito pouco, apesar de termos quase todos nós, a maioria dos brasileiros, segundo estudo, 70% dos brasileiros têm antepassados indígenas. Eu sei que eu tenho, e a grande maioria tem.
A nossa cultura é marcada por isso, mas eu acho que a gente ainda tem muito para aprender. O que me encanta é que esses povos todos, que eram cerca de mil nações no que é hoje o Brasil, hoje são aproximadamente 200, eles desenvolveram ao longo de milhares de anos uma tecnologia, uma ciência, uma filosofia que a gente ignora, que era capaz de prover, num modo de vida bastante coletivo e solidário, fartura de carboidrato, proteína, fartura metafísica, filosófica, mitológica, religiosa, num ambiente de muita coletividade.
O próprio modo circular de viver é o impedimento de privilégios. Então é tudo circular. O cacique, o líder, não mora num lugar melhor que os outros. E é muito interessante. A maneira coletiva como eles educam criança, a noção de negar a propriedade privada, tudo isso me encanta. Então eu desenvolvi um trabalho intelectual e o meu cinema se aproximou desse universo. E o que eu entendo eu quero traduzir através do cinema.