Transcrição – Áudio – 2017-2

Agora que você já fez a tarefa anterior, pode ouvir novamente o áudio e acompanhar com a transcrição abaixo. Aproveite para prestar atenção na pronúncia e escrita das palavras e adicionar novas palavras a sua lista de vocabulário.

Transcrição

Rádio Bandeirantes 

Eu acordo bem cedo, levanto, arrumo lancheira, uniforme, verifico material, dou café para o meu filho. Aí eu começo em casa, né, arrumar a cozinha, arrumar os quartos, enfim. Dar uma ajeitada na casa, já adianto alguma coisa para o almoço, daí eu vou buscar meu filho na escola por volta de 11h00 – 11h30.

É uma rotina de uma dona de casa como a maioria das donas de casa paulistanas. 

Sim

Exceto por um detalhe, né?

Eu sou deficiente visual total, não tenho percepção nenhuma de luz.

Leila Alexandrino Batista, dona de casa, há 15 anos se casou com o Carlos que também é deficiente visual. Há 12 anos nasceu o Gabriel.

Quando ele ainda não falava e eu tinha um armarinho de vidro na cozinha e dentro eu tinha um pote com balas. Ele começou a apontar e eu olhei para o rostinho dele e falei assim não adianta apontar que eu não estou vendo. O que é que você quer? Ele pegou a minha mão e bateu no vidro. Já perguntaram para ele na escola, como é a sua casa, como é ser filho de deficiente visual? Ele falou, é normal.

Ainda na infância, por causa de um glaucoma, a dona de casa ficou quase cega. Quando adulta, um acidente fez com que perdesse o pouco de visão que ainda tinha. Agora, mesmo sem enxergar nada, Leila continua sendo uma mulher independente.

Vou pra rua sozinha, vou à quitanda, vou ao mercado, vou ao açougue, vou à farmácia, lojas, onde for preciso. Eu não deixo de ir ao cinema porque eu não vejo, eu não vejo, mas eu ouço. Eu não vejo, mas meu filho vê.

Ele descreve o filme para vocês?

Sim. E aí você tem que ficar falando pra ele: no cinema não pode falar alto, mas se eu não te contar você não tá vendo. 

Na casa dela tem algumas pequenas adaptações para facilitar a vida. 

O micro-ondas que veio todo naquela placa única eu tive que colar braile para eu poder usar, né saber direitinho como que faz, onde está o número 1, o desliga, o liga. 

Ela tem um jeito tão peculiar de entender o mundo que acabou se tornando palestrante motivacional.

O medo paralisa, não te deixa seguir adiante, sabe? Ai não vou fazer isso porque vou me arriscar. Não, saia da zona de conforto, tente coisas novas. 

Leila Alexandrino Batista, dona de casa, 44 anos, brasileira, esposa, mãe, mulher, uma mulher de luz.

Eu nasci com essa dificuldade para aprender com ela, se eu não aproveito a oportunidade, não valeu a lição.